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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Autismo em adultos: Você conhece as formas de identificar?

 

Nossa sociedade vem aprendendo bastante sobre o autismo nas últimas décadas, e por isso o transtorno tem sido representado em filmes, séries, livros e comentado também nas redes sociais. Tudo isso sem dúvida tem nos ajudado a conhecer melhor o TEA (transtorno do espectro do autismo), ao mesmo tempo em que contribui para o aumento expressivo dos diagnósticos. No entanto, o autismo não tem cura e não some com o tempo. O autismo em adultos existe e é tão comum quanto em crianças.

“Avisar” ao mundo que o TEA não termina na infância, é um desafio e um dever da nossa sociedade. As crianças autistas serão adolescentes, que se tornarão adultos e, mais tarde, serão idosos autistas. Portanto, devemos estar atentos às suas necessidades e a formas eficazes de apoiá-los e integrá-los em nosso meio. ¹

Se nesse momento você está se perguntando como é o autismo em adultos? Como identificá-lo? Ou qual a melhor maneira de lidar com o tema? Esse artigo foi feito para você!

 

Por que o autismo é infantilizado?

Mas se o autismo não é “coisa de criança” por que se fala tanto em crianças com TEA? Por que quase sempre ao lidar com assunto, nos vem em mente a imagem do menino no cantinho da sala? Bem, isso não acontece por acaso. Podemos dizer que existem duas principais razões para que isso aconteça.

Primeiramente, porque os sinais do autismo surgem na primeira infância. A maioria dos pais de crianças com o transtorno suspeita que algo está “estranho” perto de 1 ano e 6 meses e busca ajuda antes que ela complete 2 anos. Entenda mais sobre os primeiros sinais do TEA:

 

Primeiros sintomas de autismo

Bebês que não buscam o olhar da mãe ao serem amamentados, crianças que não demonstram diferença entre o colo dos pais e o de desconhecidos, filhos que parecem surdos e não reconhecem seu nome ou não atendem ao serem chamados são alguns dos primeiros sinais.

Além disso, é bastante comum que os bebês não respondam a brincadeiras de outras pessoas e não façam as gracinhas típicas da idade, como por exemplo mandar beijinhos ou tchauzinho. A ausência ou demora em pronunciar as primeiras palavras também são sintomas frequentes.

Esses sinais tem ficado mais claros a medida que as pesquisas sobre o TEA avançam, e por isso, o autismo infantil parece ser mais “conhecido” do que o autismo em adultos.

Já aquela imagem do menino no canto da sala, é comum por conta dos comportamentos motores repetitivos (agitar de mãos, tronco ou cabeça) que também são sintomas do transtorno. E como ele é mais comum em pessoas do sexo masculino – quatro a cinco vezes mais em meninos do que em meninas, a imagem se estabeleceu como um estereótipo clássico do autismo. 2,3

 

Diagnósticos recentes

Outra razão para termos uma visão um tanto infantilizada sobre o autismo é o aumento no número de diagnósticos nas últimas décadas. O último relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos – divulgado em 2018 – mostrou um aumento de 15% no número de crianças com TEA em relação às pesquisas anteriores.

Isso não significa que transtorno seja mais comum agora do que era a anos atrás. Na verdade, o mais provável, segundo os especialistas, é que esse número tenha aumentado justamente porque agora conhecemos melhor os sintomas que aparecem na infância. 4

Isso pode significar que muitas pessoas adultas nunca foram diagnosticadas, e que, por isso, nunca fizeram qualquer tipo de tratamento. Além disso, como nem todo mundo sabe reconhecer os sintomas do autismo em adultos, o diagnóstico tardio fica mais difícil, e pode ser confundido com outros transtornos. 5

Entretanto, muitos autistas (mesmo que tardiamente) já tem o diagnóstico fechado. Só que isso não resolve completamente seus problemas. Para explicar melhor essa questão, vamos conhecer a história do Raphael Rocha Loures, de 35 anos, entrevistado pela Gazeta do Povo, 6 meses após receber seu diagnóstico:

 “Foi um choque e meu mundo desabou, pois tudo o que eu tinha como real era totalmente diferente em outras pessoas. Tive de reconstruir o que vivi em 35 anos sob um novo ponto de vista”

Ao contrário do que normalmente acontece, Raphael é quem teve de fazer o anúncio para a família. A primeira reação é sempre a descrença, pois ainda se associa o autismo a pessoas que não interagem ou a gênios.

“Depois que explico os detalhes é muito comum falarem que meus sintomas, como por exemplo a vontade de ficar sozinho, é algo que todo mundo têm. Mas no autismo isso é algo muito maior e a forma de lidar e sentir é diferente.”  6

 

Desafios do autismo em adultos

Tanto para autistas sem o diagnóstico quanto para aqueles que já conhecem a sua condição, as dificuldades tem a ver com a linguagem, interação social, processos de comunicação e comportamento social. No entanto, os sintomas de autismo em adultos também variam conforme o grau de comprometimento funcional que o autista apresenta.

Os autistas mais leves geralmente sofrem com problemas para concluir um curso superior, trabalhar, manter um relacionamento amoroso e uma vida social padrão. Em outro momento da entrevista o autista Raphael desabafa:

“A linguagem corporal para mim é um buraco negro. Eu me comunico verbalmente, nem enxergo o resto. Isso é muito sério por que o mundo trabalha com essas habilidades sociais e espera que você faça e entenda essa linguagem.”

Os autistas mais severos, por sua vez, podem ter uma vida muito limitada, e até mesmo precisar de internamento no momento em que perdem seus cuidadores. 1

 

Sintomas de autismo em adultos

Quando falamos em autismo em adultos é preciso compreender que aqueles que não foram diagnosticados na infância, mas que vivem muito próximo do que se considera “normal”, ou seja: trabalham, estudam, sempre conviveram em sala de aula regular e constituíram família, os sintomas mais prováveis são aqueles que marcam o autismo leve, ou seja o nível menos grave do transtorno. 6

Os sintomas do autismo leve em adultos geralmente ficam mais evidentes nas áreas da interação e comunicação social do que no desenvolvimento cognitivo propriamente dito, já que eles não possuem nenhum tipo de prejuízo intelectual ou deficiência mental.

Alguns sinais podem ajudar a reconhecer o autismo em adultos. Confira:

 

Autismo em adultos: interação 6,7

O autista tem dificuldade para compreender regras sociais que não são óbvias, como por exemplo:

·   Pode parecer que a pessoa “não se liga” quando outra faz um sinal (por exemplo: gesto, olhar, careta) com o objetivo de transmitir uma mensagem, chamar atenção ou adverti-la de algo, porque as expressões faciais são difíceis de serem percebidas.

·   É comum que a pessoa tenha problemas para entender metáforas, ironias e piadas que têm duplo sentido ou uma mensagem “escondida”.

·   A pessoa pode parecer ingênua, não ver maldade nem malandragem e até mesmo malícia em situações que outras pessoas normalmente perceberiam rapidamente.

·   Os autistas podem ter dificuldade para ter empatia com o outro, por isso geralmente não percebem sinais emocionais sutis como por exemplo: tristeza, raiva, tédio e até de alegria, a menos que sejam bastante óbvias.

 

Autismo em adultos: socialização 6,7

Nos casos de autismo em adultos, assim como no autismo em crianças, conectar-se com outras pessoas pode ser muito complicado. Do ponto de vista da socialização, os sintomas de autismo leve em adultos incluem:

·   A pessoa pode sentir desconforto ou estranheza na hora de dar ou receber afeto e se sentir incomodada com a proximidade, toque ou abraços de pessoas que não sejam muito íntimas.

Aqui, podemos dar como exemplo o depoimento de outro autista que descobriu sua condição depois de adulto. O nome dele é  Jacob Galon, 27 anos, ele sempre carregou o rótulo de tímido e antissocial e ouviu que o desconforto que os “toques” causavam nele era frescura. Hoje ele assume sua condição e mantém um blog e uma comunidade sobre o assunto no Facebook, trocando experiências com autistas de vários países.

·   Geralmente os autistas não ficam à vontade com demonstrações de carinho, mesmo com aqueles de quem são próximas, podem evitar beijos, abraços ou toque.

·   Tem dificuldade em compreender coisas abstratas como por exemplo: sensações, intuições, ideologias, etc.

·   Parecem encarar a vida de forma muito prática e objetiva.

·   Podem preferir falar de assuntos muito específicos, por muito tempo, e como tem dificuldade para perceber sinais sutis, muitas vezes não conseguem perceber quando as outras pessoas não estão mais interessadas no assunto.

·   Podem usar linguagem muito formal e parecerem inadequados ao ambiente.

·   Utilizam linguagem direta e podem ser percebidas como “grossas”, simplesmente porque são extremamente honestas com seus pensamentos e não percebem que podem chatear o outro.

 

Autismo em adultos: funcionamento 6,7

·   Apresentam muita resistência a fazer as coisas fora do planejado e sair da rotina, ficando ansiosos e irritados com isso.

·   Interesse pronunciado (hiperfoco) em ferramentas, instrumentos, mecanismos tecnológicos e coisas materiais.

Alguns autistas também podem ter um desempenho acima do comum em determinadas atividades, e serem considerados extremamente talentosos em suas áreas de interesse. Mas ao contrário do que se possa imaginar, apenas uma parte pequena dos autistas (cerca de 10%) está deste lado do espectro.

 

Autismo em adultos: sensibilidade 6,7

·   Sofrimento intenso com barulhos incômodos e ambientes agitados.

·   Dificuldade em usar roupas de tecido não tão confortável.

·   Restrições alimentares: por exemplo, não gostar de comida com textura, cheiro ou gosto diferente do que está acostumada.

·   Também são frequentes outras alterações sensoriais, como muita sensibilidade a luz, por exemplo.

Agora que você já conhece bastante sobre o mundo do autismo em adultos, fique atento e compartilhe essas informações com outras pessoas. Se você identificou um conjunto desses sintomas em si mesmo ou numa pessoa próxima, procure orientação médica, a maior parte dos autistas podem superar muitas de suas limitações. Por isso, o diagnóstico e o tratamento são muito importantes!

Vale lembrar que enquanto sociedade, é nosso papel reconhecer e incluir os autistas em nossas escolas, universidades e também no mercado de trabalho.

Obrigada pela leitura!

Colaborou com esse artigo: Dra. Fabrícia Signorelli Galeti - Psiquiatra – CRM 113405-SP

Referências bibliográficas e datas de acesso

1 – Autimates 24/02/2020

2 – Autismo Brasil – 24/02/2020

3 – Minha Vida – 24/02/2020

4 – Revista Crescer 24/02/2020

5 – Autismo em dia 24/02/2020

6 – Gazeta do Povo – 24/02/2020

7 – Entendendo o Autismo – 25/02/2020

 





 PUBLICAÇÃO ORIGINAL:


https://superafarma.com.br/autismo-em-adultos-voce-conhece-as-formas-de-identificar/

 

 

 

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